A religião na sociedade moderna | Editorial | Ciberteologia - Revista de Teologia e Cultura

EDITORIAL

Lançamos esta sétima edição de Ciberteologia constatando o sucesso e a surpreendente receptividade que nossa revista vem alcançando junto aos ciberleitores. Em um ano de serviços prestados, já recebemos quase 70 mil visitas de cerca de 50 mil usuários, os quais consultaram as páginas da revista em torno de 300 mil vezes. A repercussão de nosso projeto só aumenta a responsabilidade com que o preparamos. Por isso, dando continuidade à seleção de textos oferecida nos números anteriores — e que podem ser revisitados por nossos visitantes a qualquer momento — procuramos dosar, desta feita, bons textos de ciências da religião com outros nitidamente teológicos.


Este é o caso do artigo de Juan Luis Segundo, O Deus criador e o homem livre, que abre esta edição. Extraído de uma das principais obras do autor — Que mundo, que homem, que Deus? — já esgotada, seu principal escopo é subsidiar a inevitável reformulação do dogma cristão no contexto da Modernidade. No trecho aqui oferecido, o leitor desfrutará de uma perspicaz reflexão que relaciona criação divina e liberdade humana.


O sociólogo da religião Stefano Martelli foi contemplado, neste número, com três artigos. No primeiro, A experiência religiosa: a religião do ponto de vista do mundo vital, o autor examina a religião do ponto de vista “micro”, a saber: como uma relação interior do indivíduo com a realidade transcendente, isto é, a partir da experiência do sagrado vivida interiormente. Sem deter-se no aspecto psicológico e na questão ontológica (isto é, se de fato existe um correlato objetivo, Deus ou outra Realidade transcendente para as atitudes religiosas das pessoas), Martelli destaca a dimensão social de tal experiência, entendendo que, se pretende permanecer como ciência empírica, a sociologia da religião deve partir de uma posição metodológica que pode ser chamada “agnóstica”.


O segundo trabalho de Martelli aqui incluído é o texto Le Bras e a sociologia religiosa. Admitindo a premissa de que sociologia e teologia podem estabelecer relações não-conflitivas, Martelli nos introduz na sociologie religieuse de Gabriel Le Bras (1891-1969), a qual estabelece um nexo orgânico entre sociologia e religião-de-Igreja. Como veremos, diferentemente da sociologia durkheimiana, Le Bras voltou sua atenção mais para os dados históricos, religiosos, estatísticos e jurídicos, até contemporâneos, do que para aqueles etno-antropológicos, tirados das sociedades pré-literárias.

Rompendo as vacilações dos durkheimianos, Le Bras efetuou, assim, uma significativa reorientação da disciplina, focalizando a atenção sobre a situação da religião na sociedade moderna. No terceiro artigo, Georg Simmel e a religiosidade como forma pura das relações sociais, Martelli resume o pensamento de Simmel (1858-1918), que foi contemporâneo de Durkheim e de Weber. Mais conhecido em virtude de seus últimos escritos, de sabor filosófico, só mais recentemente tem crescido o interesse pela sociologia de Simmel. Segundo Martelli, tal sociologia realiza um esforço notável para ligar o plano macrossociológico ao micro, a problemática da diferenciação social e religiosa à perspectiva da experiência religiosa do indivíduo, colhido no concreto da vida cotidiana e das relações sociais.


Finalmente, e de volta à teologia, Julio Fontana brinda-nos com uma reflexão inédita em que investiga O grande paradigma da inculturação do Evangelho nos primórdios da Igreja, o qual surgiu quando a Igreja anunciou a fé ao universo cultural do helenismo, em termos compatíveis com sua capacidade de compreensão, tendo sido, por sua vez, moldada por aquela cultura. Conforme Fontana, tal processo está se iniciando, de maneira consciente, em diversas partes do mundo hoje em dia. Mas para melhor ajuizar que passos dar hoje, convém verificar como se realizou a inculturação do Evangelho essencialmente judaico e rural no ambiente helenista e cosmopolita. As lições a tirar daí não são poucas, nem irrelevantes.


A seção de comunicação também traz, desta vez, outras duas reflexões instigantes. J. C. Ribeiro leva-nos a um breve percurso crítico pelo mundo do jornalismo em Sempre alerta: condições e contradições do trabalho jornalístico. E o teólogo e liturgista Antonio Francisco Lelo, assessor de Paulinas Editora para as áreas de Catequese e Liturgia, oferece-nos o texto inédito Iniciação: processo profundamente humano, itinerário de fé, caminho litúrgico, iniciação aos mistérios. O autor destaca, a partir da fenomenologia da iniciação e da unidade existente entre os três sacramentos de iniciação, algumas consequências para a pastoral da iniciação cristã. Além dessas seções, nosso ciberleitor poderá usufruir das demais seções de Ciberteologia —Resenhas. Continua também no ar a seção Rumo à V Conferência, que visa a tornar disponível aos interessados alguns textos que vêm sendo produzidos como preparação para a próxima Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, que acontecerá em 2007 em Aparecida, São Paulo, Brasil.


Enfim, está entregue ao público a sétima edição de Ciberteologia. Esperamos permanecer fiéis a nosso objetivo inicial de estimular a leitura e a reflexão teológicas, colocando ao alcance de cada vez mais pessoas um pouco do acervo intelectual, teológico e pastoral de Paulinas Editora. Nossa Equipe continua à disposição de quem queira, de alguma forma, participar do incremento da produção e da divulgação do pensamento teológico. Pesquisadores e autores com escritos originais afins a nosso projeto editorial podem nos enviar seus trabalhos (artigos, comunicação, resenhas), desde que atendam nossas normas de publicação.


Uma produtiva ciberleitura a todos!
Afonso Maria Ligório Soares

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