Homenagem a Irmã Maria Carmelita de Freitas e Hugo Assmann | Editorial | Ciberteologia - Revista de Teologia e Cultura

EDITORIAL

Este décimo sexto número de Ciberteologia vai ao ar em luto. Perdemos em fevereiro do corrente ano duas personalidades muito queridas e de trajetórias relevantes na vida do cristianismo e do pensamento teológico. Irmã Maria Carmelita de Freitas faleceu no dia 8 de fevereiro, em Belo Horizonte (MG). Era membro da Congregação das Filhas de Jesus e Doutora em Teologia, tendo atuado durante décadas como Assessora Nacional da CRB (Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil) e da CLAR (Conferência Latino-Americana dos Religiosos). Até Julho de 2007 era Presidente da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião), além de escritora, professora e conferencista. No dia 22 de fevereiro de 2008, deixou-nos Hugo Assmann. Um dos fundadores da Teologia da Libertação, a obra de Assmann estendeu-se também pelas áreas da Economia, da Política e, na última década, dedicou-se apaixonadamente a “reencantar a Educação” (título de um de seus livros). Este número vai dedicado a esses dois exemplos brasileiros de seriedade científica banhada no amor pelos mais excluídos da sociedade.


O primeiro trabalho da seção de Artigos é O campo religioso como representação da vontade de ser reconhecido socialmente. Nele, Sidney Antonio da Silva, a partir de dados etnográficos, afirma que uma das formas de se compreender a maneira de ser do boliviano imigrante no Brasil, e, talvez, a mais importante, é através da variada e específica maneira de manifestar a sua religiosidade. Em O futuro do cristianismo – Parte I, Manuel Fraijó parte da constatação, aparentemente paradoxal, de que a identificação entre “cristianismo” e “fé em Deus” não é universalmente aceita. Há quem opine que a sombra do cristianismo é mais abrangente do que a de Deus. Poderia dar-se o caso, portanto, de que o cristianismo sobrevivesse sem Deus. E sugere, provocativo, que talvez queiramos ser cristãos, “mas não demais”.


O biblista Paulo A. de S. Nogueira estuda, em Jesus em boa companhia: exaltação visionária no relato da transfiguração, a experiência religiosa cristã primitiva no âmbito da pesquisa do Jesus histórico e de seu movimento. Sua pergunta é se uma dada experiência pertence ou não ao conjunto de formas em que a sociedade de Jesus vivenciava a religião, se faziam parte do contexto dele. E mesmo se somente for possível comprovar que apenas seus discípulos vivenciaram algo, isso não deve a priori desmerecer a narrativa. Afinal, uma das conquistas da pesquisa moderna sobre o Jesus histórico é a adoção do critério de continuidade, ou seja, aquilo em que os discípulos de Jesus creram e aquilo que eles praticaram não é necessariamente incompatível com o que ele tiver crido e praticado. Enfim, em Axé, Malungo!, Roberto Zwetsch discute a vitalidade da cultura negra a partir de alguns poetas negros. Além disso, entende que, na poesia, o inconsciente aparece com mais força do que em outras formas literárias. E é justamente na fronteira entre o consciente e o inconsciente que o autor espera encontrar alguma coisa nova.


A seção de Comunicação, abre-se com o texto Sábios contra os ídolos, de Marie Balmary. A autora afirma que Freud não se coloca diante da Escritura como de uma produção do inconsciente que começará a decifrar ousadamente. Muitas vezes, contudo, os comentaristas notaram a semelhança entre o trabalho de interpretação judia dos textos e o que Freud faz com sintomas e sonhos. Daí se pergunta a autora: sobre o que, portanto, incidia a crítica de Freud a respeito da religião? Em Recordação de um grande ausente, Manuel Fraijó parte da afirmação de J. B. Metz, quando este afirma que “também a nós cristãos ficam algumas coisas por saber em relação ao tema Deus”, para tecer breve e instigante comentário sobre a insistência moderna na ausência de Deus ou em sua invisibilidade.
Em O Imigrante boliviano e o papel da cultura em suas trajetórias, Sidney A. da Silva reflete sobre Migração e clandestinidade, questionando a visão que os cidadãos têm do outro imigrante e de sua cultura.


Enfim, publicamos o texto-testemunho Hugo Assmann: teologia com paixão e coragem, gentilmente oferecido por Jung Mo Sung, atual coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Na seção comunicação, publicamos uma Memória da Irmã Carmelita (1933-2008), falecida no último dia 8 de fevereiro, escrita pelo frater Henrique Cristiano José Matos, cmm.

Aí está, portanto, a décima sexta edição de Ciberteologia. Como sempre, novos textos e resenhas vão, aos poucos, completando esta edição, ao longo das semanas de março e abril. Pesquisadores e autores com escritos originais afins a nosso projeto editorial podem nos enviar seus trabalhos (artigos, notas, resenhas), desde que atendam nossas normas de publicação (enviar para: [email protected]). Aproveitamos para agradecer aos articulistas desta edição por sua importante participação em nosso projeto.


Um Feliz Páscoa do Senhor a todos!
Afonso Maria Ligorio Soares - Redator-Geral

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