Literatura e Teologia | Editorial | Ciberteologia - Revista de Teologia e Cultura

EDITORIAL

Este décimo quarto número de Ciberteologia encerra o ano presenteando o ciberleitor com 5 artigos inéditos em torno do tema das relações entre Literatura e Teologia. São de autoria de 3 mestrandos, 1 doutorando e uma recém-doutora do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências da Religião da PUC-SP. Os textos são fruto das discussões levadas a termo no Curso Temático Literatura e Religião (Núcleo: Religião e Campo Simbólico), coordenado pelo Prof. Dr. Afonso Maria Ligorio Soares.


O primeiro trabalho da seção de Artigos é O cordeiro: o paganismo no poema de William Blake, co-redigido por Marina S. Lopes e Emmanuel G. G. Lisboa. O trabalho faz uma análise do poema The Lamb [O cordeiro], do poeta britânico William Blake. Divide-se em três partes: tece algumas considerações acerca da relevância do comentário literário; em seguida, comenta o poema propriamente dito; por fim, ensaia uma interpretação do poema. As estórias de fadas na Cidade de Deus: teoria literária de J. R. R. Tolkien e as virtudes cardeais de santo Agostinho é um estudo de Diego Klautau sobre os seguintes conceitos literários de J. R. R. Tolkien: estórias de fadas, fantasia, subcriação e eucatástrofe. Através do poema Mythopoieia (1930), do ensaio Beowulf: The Monsters and the Critics (1936) e do ensaio On Fairy-Stories (1939) o autor tece uma teoria literária que entende sua finalidade como uma expressão religiosa, buscando similitudes com o pensamento de santo Agostinho, especificamente nas quatro virtudes cardeais, expressas nos livros A cidade de Deus (426) e O livre-arbítrio (388), assim como a glória das nações pagãs e a presença de virtudes que justificassem elementos da verdade em povo pagãos. Assim como antigas virtudes romanas poderiam ser exemplos para os cristãos, também nos mitos escandinavos, como Beowulf, poderiam ser encontradas virtudes pertinentes à revelação cristã. Por fim, também as estórias de fadas, subcriadas, podem e devem ecoar elementos do Evangelho cristão.


Por sua vez, Roberto Rosas Fernandes esboça, em A Poesia Mística da Libertação: Um estudo psicológico da Eucaristia, uma interpretação psicológica de poemas de Adélia Prado, que foram escolhidos por tecerem uma reflexão simbólica do terreno religioso na modernidade. Em Missa das 10 e Tabaréu, a poeta questiona aspectos fixados, tanto da religiosidade quanto da racionalidade. Este trabalho busca integrar aspectos do Cristianismo introvertido aos do extrovertido, por meio do Arquétipo da Alteridade, tendo a Eucaristia como o revelador ponto de encontro entre os dois. Emmanuel G.G.Lisboa oferece-nos ainda o texto Murilo Rubião, releitura e retorno ao evangelho de João em que versa sobre a literatura fantástica latino-americana e suas relações com o quarto evangelho. Após percorrer um breve caminho sobre a história e a estética do fantástico, o autor centra-se na solidificação desse tipo de literatura na América Latina, sobretudo no Brasil, com Murilo Rubião. Finalmente, em Liberdade e cristianismo em Kierkegaard, Maria Cristina M. Guarnieri aponta a questão da liberdade em Sören Aabye Kierkegaard, sua relação com a existência e com o cristianismo, especificamente com o que ele denomina Deus-homem. Esse Deus-homem é o paradoxo absoluto. É o mestre salvador, libertador, reconciliador e juiz. Para tanto, a autora serve-se fundamentalmente de duas obras do autor: Migalhas filosóficas e O conceito de angústia. Na primeira, Kierkegaard apresenta o paradoxo Deus-ser humano e revela o conceito de “instante” como síntese da temporalidade e eternidade. Na segunda, investiga a liberdade e analisa o conceito de “espírito” como síntese do corpo e alma.


Na seção de Comunicação, mais três reflexões que merecem destaque. Em Revista Vozes: uma jovem centenária revista de cultura, Frei Clarencio Neotti faz uma bela homenagem a essa importante publicação brasileira do século passado, hoje extinta. Rumo a uma teoria geral da religião é um trabalho de Rodney Stark que rompe com uma longa tradição de explicações sobre a religião baseadas em “um fator”, como o fizeram Freud, Marx, ou Durkheim. Stark busca ser genérico por meio de um conjunto integrado de afirmações formais orientado a responder muitas perguntas clássicas sobre religião.


Em O Documento de Aparecida: uma proposta teológica?, O teólogo Francisco Catão destaca na V Conferência Geral do CELAM, reunida em Aparecida (São Paulo-Brasil) em maio de 2007, uma sugestiva novidade teológica. Teriam os bispos representantes do episcopado latino-americano, no clima pluralista em que vivemos, proposto como fundamento da evangelização da América Latina e do Caribe uma teologia diversa da que sustentaram e alimentaram as conferências anteriores? Catão oferece-nos aqui uma ponderada resposta para a questão.


Enfim, aí está entregue a décima quarta edição de Ciberteologia. Nossa Equipe continua à disposição de quem queira, de alguma forma, participar da produção e da divulgação do pensamento teológico. Pesquisadores e autores com escritos originais afins a nosso projeto editorial podem nos enviar seus trabalhos (artigos, notas, resenhas), desde que atendam nossas normas de publicação. Aproveitamos para agradecer aos articulistas desta edição por sua generosa colaboração.


Um Feliz Natal a todos e uma produtiva ciberleitura é o sincero desejo de toda a Equipe de Ciberteologia!
Afonso Maria Ligório Soares

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