EDITORIAL
Nesse ano que passou a Igreja Católica concluiu mais um Sínodo dos bispos, a XV Assembleia Geral ordinária, desde a instauração dessa práxis colegiada, após o Concílio Vaticano II. Foi a vez da temática da juventude. A temática parece por si mesma pouco atraente aos olhares da vigilância ortodoxa e aos pastoralistas de plantão. Por conseguinte, a grande mídia não pautou com tanta ênfase o evento em suas matérias e bem pouco as decisões daí emanadas no relatório final. A juventude permaneceu um tema morno dentro e fora da Igreja, embora já tenha merecido todo o empenho dos Papas e, de modo particular, do Papa Francisco. Na fase preparatória do Sínodo o Papa do fim do mundo surpreendeu o público com mais um título significativo que batizou um conjunto de diálogos realizados com o jornalista Thomas Leoncini: Deus é jovem. Aí, Francisco relembra a passagem de Apocalipse que diz “Eis que faço novas todas as coisas” (21,5). E conclui: “Deus é aquele que sempre se renova, porque Ele é sempre novo: Deus é jovem! Deus é o eterno que não tem tempo, mas é capa de rejuvenescer-se continuamente e tudo”.
O jovem é o recomeço contínuo da espécie viva, semente da continuidade e promessa de nova época. Não são simplesmente belas palavras, mas dado biológico básico. E a biologia humana interroga sobre o sentido do próprio humano. Em cada jovem, a vida humana anuncia suas possibilidades de reprodução e perpetuação; cada qual é o sacramento vivo da vida que se refaz e do Deus que tudo renova. O jovem é promessa, mas também interrogação sobre o futuro. Cada geração se mostra como possibilidade aberta do que possa vir para a espécie humana e, evidentemente, para o conjunto da vida planetária.
Não há como negar que, se se pensa em futuro do cristianismo, do catolicismo e da sociedade, todos concordarão que estamos perante um tema urgente. Que futuro nos aguarda? Quais as condições de sobrevivência, de convivência e de governança do planeta nas próximas décadas? Os jovens de hoje serão os sujeitos protagonistas da história nas décadas que nos sucederão. Dado óbvio, mas pouco refletido pelas mídias, regidas que são pelo tempo do agora, do fato imediato e do impacto do efêmero. No mundo da cultura de consumo, o império do presente traga em sua dinâmica não somente as utopias, mas também os valores éticos que configurem horizontes comuns e metas a serem alcançadas. Nada mais relevante que o bem-estar curtido sem limites no imediato, no instante que se infla de felicidade plena, sob pena de ser rejeitado em todos os limites que possa apresentar. Nem limites e nem esperas. Eis a máxima da curtição instantânea que se torna a cada dia o modo de viver da maioria da população. Nesse contexto, os sonhos vão sendo raptados ou descartados como desnecessários. Os jovens que por sua própria faixa etária é uma incubadora de projetos e uma potência a atualizar-se vão sendo tragados pelo imediatismo sem promessas, pela realização de um agora absoluto e pela antecipação imediata de tudo que significar felicidade.
Antes de se pensar no futuro é preciso pensar no presente dos jovens; em modos de vidas que reconstruam as práticas diárias relacionadas ao consumo, ao lazer e à comunicação, todas essas conectadas nas redes de informação instantânea. Os jovens compõem a geração dos indivíduos próximos e distantes, sendo que a distância e o isolamento terminam impondo-se como regra. Ensinar a desejar o novo torna-se um desafio colossal, contracultura que patina sem grandes chances de fecundar novas ideias e valores. No império do presente efêmero, semear o futuro de outro mundo melhor não somente se mostra desnecessário, como, muitas vezes, incômodo. A tão repetida “crise das utopias” que se instala desde as experiências de globalização econômico-financeira que pôs fim ao confronto das opções leste-oeste, capitalismo-socialismo e, por suposto, ao velho contraste do primeiro, segundo e terceiro mundo adquiriu hoje seu auge e plenitude. O malfadado fim da história que se apresentou como heresia teórica para as ciências do homem, mostra sua efetividade prática como cultura do efêmero, comunicada pela supremacia estética, efetivada pelo consumo e sustentada pela força conjugada da alma que humana que deseja sempre mais e pelo mercado que produz sempre de novo.
Qual o futuro pode ser desejado? Que utopia pode se apresentar como necessária? Haverá urgências históricas que alavanquem mudanças de rumos coletivos e individuais? Como despertar para a busca do ainda-não, da superação dos limites, para a aprendizagem do novo, para a mística da procura, da luta e da autossuperação? Como ensinar que a ponderação é um valor fundamental da vida individual e coletiva? Qual o modo de vida contracultural concreto e viável a esse hegemônico? Como viver em uma sociedade sem lugar para a espera e para as utopias?
A maior de todas as urgências éticas será ensinar a geração consumista a superar a alienação absoluta no presente, uma vez anestesiada permanentemente com as promessas de felicidade imediata no último produto disponível, carregado sempre de plenitude de bem-estar. A tirania do presente captura os desejos e os ideais das gerações, dentre as quais os jovens são os mais seduzidos e, por conseguinte, os mais vulneráveis.
A cultura atual instaura uma tensão entre o presente e o futuro, com nítida vantagem para o presente. As ofertas imediatas de produtos materiais e simbólicos exigem decisão imediata, sem escolhas refletidas e sem parâmetros de valores comuns. A corrida pelas ofertas relâmpagos, pelas promoções Black Friday e pelos lançamentos inéditos instauram a orgia de felicidade momentânea, uma espécie de experiência do presente sub specie aeternitatis. A cada dia, a cada semana, mês, ano... essa dinâmica se refaz e se mostra como se tudo fosse inédito e, por consequência, inadiável; um eterno agora que arrebata para um tempo extático que despreza o passado e o futuro como dimensões desnecessárias para ser feliz no agora. O consumismo é o império do agora! O consumista – e todos o são de alguma forma e em alguma medida – é o satisfeito com o presente. Compra-se com os impulsos efêmeros do agora, ama-se com os mesmos e com eles se escolhe um governante e se relaciona com Deus.
Parece certo que o jovem, filho natural desse modo de vida individualista e hedonista, constitui a geração dos presos na jaula de aço de Max Weber, presos por razões estruturais, coletivas e psicológicas; geração enfeitiçada pelos encantos dos produtos, pelo fetiche de Karl Marx,encanto potencializado pelas estéticas das marcas e pela indústria vertiginosa de produtos novos; geração egolátrica da curtição de si mesma, do narcisismo de Freud que vive mergulhada no poço do grande líquido das telas de comunicação. Esses críticos da chamada modernidade detectaram com lucidez o rumo da civilização que se despontava há mais de cem anos. Não mediariam jamais a concreção e proporção que suas intuições. De fato, permanecem sempre atuais os desafios arquetípicos da construção da humanização: ensinar a perceber que está nu, quando satisfeito os desejos de ser igual a Deus, ensinar que a autocontemplação do ego leva a morte por afogamento no próprio isolamento, ensinar a sair da caverna irreal para o mundo real.
Nessa moldura integradora, educar para o futuro é educar para o presente e educar para o presente é educar para o futuro. Fecundar o futuro no presente grávido de si mesmo e desvelar a insustentabilidade do futuro a partir das consequências do presente será a tarefa de crítica e de proposição, de denúncia e de anúncio no método profético. A tomada de consciência dos limites que nos definem como seres contingentes é uma postura a ser conquistada como contracultura. Uma batalha educacional a ser aprendida e assumida pelas gerações educadoras. E não se trata de uma mera filosofia, à maneira de um existencialismo ou da reedição de um pessimismo cristão puritano, mas de um aprender a viver no mundo atual. A formação das ideias e valores, espontaneamente, protagonizada pelas mídias sociais opera no signo da liquidez que, na verdade, reproduz no individualismo mais sólido, os interesses das classes dominantes do globo, concretamente dos donos do capital. A educação para a vida real começará pela formação da consciência dos limites: limites do indivíduo isolado, das satisfações imediatas, das promessas de felicidade, das ideias onipresentes nas redes sociais, da comunicação supostamente ilimitada. A intolerância é a filha natural do individualismo limitado, onde impera o desejo individual, a ideia individual, a satisfação individual sobre qualquer referência da igualdade, do valor do outro e do imperativo das normas éticas comuns.
As religiões foram historicamente protagonistas dos limites do ser humano. Ainda que possam ter construído autênticas caricaturas da autoconsciência, onde a desvalorização de si muitas vezes se imponha como valor e regra, elas são portadoras de um ethos que afirma, antes de tudo, a contingência de cada ser humano e de todos os seres humanos e, por conseguinte, a necessidade de se estabelecer os parâmetros justos da convivência comum. Quando a cultura individualista e hedonista assimila as visões e práticas religiosas nas suas ofertas de satisfação imediata do eu insatisfeito-satisfeito, mata na raiz o que constitui a religião, ao menos nos propósitos fundantes das grandes tradições.
A tomada de consciência do limite do presente – do próprio eu, da sociedade e da natureza – inclui uma urgência cada vez mais visível de uma mudança civilizacional: dos modos de produzir, de organizar a sociedade, de conviver e de e valorar as coisas que caracterizam a nossa época. Os limites dos recursos naturais e os impactos visíveis da ação humana sobre a terra denunciam a perversidade de um modelo econômico mundial centrado unicamente no lucro das grandes corporações, o consumo limitado contribui com a produção dos dejetos que vão sujando o planeta e matando fontes de recursos vitais, o individualismo sem limites assegura, sob o estímulo da satisfação, a permanência desse regime de destruição, afirmado como única saída viável para o mundo globalizado e para as nações e como único modo seguro e feliz de se viver. Mostrar o real limite desse modelo onipotente constitui o maior desafio educacional; uma tarefa ao mesmo tempo de exposição dos efeitos visíveis (tarefa mais imediata e, por certo, mais fácil) e das causas estruturais (tarefa mais complexa e expor a causa econômica e as opções políticas subjacentes à crise). Ensinar a localizar as causas significa dar o passo imediato para buscar outros modos de vida; desejar outro mundo possível e necessário para a continuidade da terra, da vida e da convivência. O desejo de um outro futuro – diferente, viável e melhor para todos os vivos – está diretamente ligado à tomada de consciência dos limites do modo de vida presente. O medo da ruína adquire, nesse processo, um papel importante, como já alertava há algumas décadas o filósofo Hans Jonas. A civilização distraída com a satisfação do consumo nada teme e é educada para não temer a não ser somente o que colocar em risco a felicidade individual. Nesse sentido, os limites cada vez mais expostos pela natureza, pode ser, de fato, o início de outro modo de vida. A ruína do planeta significa a ruína final da vida. A ruína sinalizada exige mudança de rota do ponto de vista estrutural (outro modelo de economia) e individual (novos hábitos de vida). A conversão ecológica de que fala o Papa Francisco significa, portanto, conversão de vida, nos modos de consumir e de conviver.
A juventude de hoje será a geração condutora do planeta nas décadas próximas. Que geração está sendo preparada? Quais valores são interiorizados como bem presente e futuro? Seremos capazes de educar uma geração nova, consciente dos desafios colocados pelo modelo civilizacional hegemônico? Ou uma nova geração emergirá com novos valores e práticas, ou a acelerada destruição das condições de vida global e local seguirá seu curso rumo à tragédia final prevista. Esse pode parecer um desafio muito grande ou uma tarefa desproporcional às condições reais de cada jovem, mas é uma realidade colocada aos cálculos matemáticos da sobrevivência no futuro. A terra não suportará o modelo de vida hoje hegemônico no planeta. E não se trata de pregar a tragédia como enredo principal da história, mas de tomar consciência dos limites presente em nome de um futuro que se mostra como grande promessa para todo o universo; a promessa acolhida como imperativo permite superar o presente, mesmo quando se apresenta como absoluto acabado, como fim da história, como regime único e como felicidade plena. Lançar-se para o futuro é, antes de tudo, um movimento que advém da fé, do centro da mensagem de Jesus de Nazaré e do mistério pascal: o Reino de Deus apresentado como promessa e possibilidade. Para a fé cristã, a esperança está sempre presente como germe que desgasta as absolutizações presentes, as falsas promessas, as ilusões e os falsos deuses. A esperança cristã é crítica e criativa, ensina a ver os limites do presente e caminhar para frente, para o Reino Deus que nos arrasta para o novo, sempre maior e sempre melhor do que as situações presentes. Em seu Discurso de Abertura do Sínodo da juventude, assim concluiu o Papa Francisco: “Esforcemo-nos, pois, por procurar “frequentar o futuro” e por fazer sair deste Sínodo não só um documento – que geralmente é lido por poucos e criticado por muitos – mas sobretudo propósitos pastorais concretos, capazes de realizar a tarefa do próprio Sínodo, que é fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender um do outro, e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos e inspire aos jovens – a todos os jovens, sem excluir nenhum – a visão dum futuro repleto da alegria do Evangelho”.
Essa visão da função de um Sínodo, carregada de profecia e esperança, exige ultrapassar a normatividade do texto e a tradição centrada na doutrina, não livre de uma cultura da reprodução mágica. O Sínodo é um momento eclesial que pretende colocar a Igreja em saída, ensaiar novas rotas pastorais, mudar a visão e a prática. Por certo, mais uma vez os ideais de Francisco estão distantes e à frente da cultura eclesial comum que rege as normas e as práticas pastorais ajustadas às rotinas das estruturas eclesiais. O Sínodo exige, portanto, conversão de rota dos pastores e de todos os agentes eclesiais. Na carta final os padres sinodais dizem: “Sabemos de suas buscas interiores, das alegrias e das esperanças, das dores e angústias que fazem parte de sua inquietude. Agora, queremos que vocês escutem uma palavra nossa: desejamos ser colaboradores de sua alegria para que suas expectativas se transformem em ideais. Temos certeza de que com sua vontade de viver, vocês estão prontos a se empenhar para que seus sonhos tomem forma em sua existência e na história humana”.
O tempo de recepção das orientações sinodais exige estratégias diversas das igrejas locais, de forma a superar a “mesmice” pastoral que predomina na forma dos movimentos e das diversas organizações, muitas das quais se regem com seus “magistérios” particulares. Sem uma dinâmica consciente, crítica e criativa de acolhidas dos textos sinodais, não haverá, de fato, recepção, apenas acolhida formal em nome de uma fidelidade teórica ao magistério sinodal e papal, caso haja a publicação de uma Exortação Pós-sinodal.
E cada realidade participa a seu modo e com suas possibilidades hermenêuticas, pastorais e políticas de um processo de recepção. O sínodo geral gera eclesialidades locais, se traduz em sinodalidades locais, na medida em que o texto final vai sendo estudado, interpretado, traduzido e aplicado. A realidade global dos jovens é um dado social, cultural e político que permite falar, mais do que nunca, em juventude mundial, juventude atual etc. Porém, é de cada realidade particular que as interrogações e as decisões deverão ser construídas no labor pastoral das comunidades eclesiais. O Brasil vive um momento crucial para a juventude, na medida em que o futuro se mostra como incógnita, nos termos das políticas educacionais e das políticas públicas de um modo geral. Se o Sínodo dos jovens não contribuir com a tomada de consciência da missão dos jovens no presente concreto nacional, não terá cumprido sua função mais primordial. O futuro da vida se encontra em risco, como alerta Francisco em sua Encíclica Laudato Si’. A tomada do poder pelo capital internacional que se coloca acima de todas as instâncias e valores como imperativo absoluto constitui, sim, um grande inimigo à vida e à liberdade dos povos. Valores ecológicos, sociais e políticos defendidos anteriormente são hoje denominados com a nomenclatura “comunista”. Embora anacrônica, essa qualificação (desqualificação) tem servido para desqualificar o conteúdo ético dos ativismos sociais, políticos, ecológicos e até eclesiais como coisas perigosas e perversas para a sociedade. A juventude de hoje será refém ou resistência a esse rolo compressor que a tudo denomina “ideologia”, menos a si mesmo? Será capaz de gestar outra leitura de mundo que ultrapasse essa que vai tomando conta das mídias e das ruas como verdade? Educar jovens para serem “sujeitos eclesiais” demarca a pauta comum e fundamental da ação eclesial do laicato brasileiro, conforme orienta, o Documento 105 da CNBB. Sujeito eclesial não constitui uma categoria social e eclesial que nasce por geração espontânea, mas que exige construção permanente; em termos catequéticos, formação permanente; em termos teológicos, acolhida permanente da graça, já que a graça supõe a natureza e a cultura e, por conseguinte, supõe as faixas etárias. Ser jovem sujeito é superar as formas de passividade que subjugam e domesticam a consciência sob a força dos valores alheios, de modo doloroso dos valores detidos por aqueles que dominam o mundo do dinheiro e da política. Mas é também exercitar-se na autonomia e aprender a ação capaz de transformar a realidade onde se encontra inserido e ao mesmo tempo transformar a si mesmo.
Nas mãos das futuras gerações, os mais jovens de hoje, estará entregue o futuro da vida do planeta e dos povos. Os sujeitos protagonistas do mundo que virá se encontram entre nós! E não haverá sujeito comprometido com a vida sem que esse compromisso seja hoje ensinado como valor urgente. No livro supracitado Francisco responde sobre suas expectativas a respeito do Sínodo dos jovens precisamente nessa direção: “Espero que sejam eles os protagonistas. O Sínodo é dos bispos mas deve estar a serviço de todos os jovens, crente e não crentes”. O Evangelho de Lucas diz a respeito do jovem Jesus de Nazaré: “crescia em sabedoria, tamanho e graça” (2,52). O desafio do protagonismo dos jovens segue o mesmo percurso do jovem de Nazaré: crescimento na consciência de si mesmo, na relação com os outros, liberdade e ação, condições de todo protagonismo. Eis o coração da recepção do Sínodo e o desafio central para toda a Igreja educadora. O Sínodo não oferece uma teoria sobre os jovens, mas uma nova postura da Igreja perante eles.
Ciberteologia oferece nesse novo número algumas reflexões sobre a temática da juventude, querendo, assim, contribuir com a recepção do último Sínodo dos bispos em nosso contexto brasileiro. Alguns Artigos tocam diretamente na temática, a partir de ângulos específicos. Os quatro primeiros descrevem e analisam o Sínodo propriamente dito. Embora o objeto permaneça o mesmo, cada autor contribui com sua perspectiva na elucidação do significado do evento. Os dois Artigos seguintes ampliam e aprofundam a temática da juventude na relação com a religião, a fé e o Papa Francisco. Na sequência, Ciber acolhe outras temáticas atuais vinculadas a distintos e intrigantes territórios: os corpos negros e a religião no Rio de Janeiro, a sociedade indígena Ye’kuana e evangelização na Venezuela e o cuidado no pensamento de Leonardo Boff e a sociedade líquida. A religião e a fé se fazem presentes nas fronteiras do mundo real e participa da complexidade que a estrutura. A seção Notas acrescenta reflexões sobre a temática da juventude, fala ainda sobre o Sínodo e também sobre as Jornadas Mundiais da Juventude, esta em forma de poesia de composta por uma participante.
No mês de fevereiro realizou-se em Roma o encontro do Papa com os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo para tratar da temática dos abusos sexuais na Igreja Católica. Mais uma ação concreta de Francisco na busca de soluções para essa questão dolorosa que tem deixado feridas abertas no corpo da Igreja e na sociedade. A seção Documento disponibiliza dois documentos que oportunamente oferecem subsídios a respeito do assunto. O primeiro, a Carta do Papa Francisco ao povo de Deus (20/08/2018), escrita por ocasião da divulgação do relatório da Suprema Corte da Pensilvânia sobre os abusos sexuais naquele Estado norte-americano. O segundo diz respeito ao Encontro sobre “A proteção dos menores na Igreja”. O Discurso final feito pelo Papa Francisco apresenta um roteiro de critérios de ação para as Conferências Episcopais. Saídas e Fronteiras disponibiliza o Documento assinado por Francisco e o Grão-Imã de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyeb. O texto histórico, “A fraternidade humana em prol da paz e da convivência comum”,está disponibilizado ao leitor nesse número e será foco de reflexões futuras edições de Ciber. Essa seção oferece ainda um relatório sucinto dos seis anos de pontificado do Papa Francisco. Nesse tempo de grandes desafios eclesiais e humanos Francisco brilha como referência ética mundial.
As palavras, gestos e ações de Francisco têm testemunhado a decisão, a coragem e a ação profética de um líder religioso e político em uma era marcada pelo avanço de ideias e lideranças desumanas que visam, a todo custo, salvar o império do dinheiro capitaneado pelo dólar. Também dentro da Igreja, o Papa tem enfrentado oposições, boicotes e calúnias. Nenhum profeta é bem recebido em sua casa! E, como todo profeta, segue em frente com coragem, transparência e serenidade. A ele nossa solidariedade, apoios e preces!
Dr. João Décio Passos - Editor