Teologia na academia: construção crítica a partir da fé | Editorial | Ciberteologia - Revista de Teologia e Cultura

EDITORIAL

Reservamos para a última edição de Ciberteologia deste ano um tema decisivo a todos os que se interessem pela afirmação da teologia na academia como área de conhecimento autônoma e respeitável. Nem sempre as intervenções eclesiásticas nas respectivas faculdades e cursos de teologia colaboram nesse sentido, mas o pensamento teológico tem necessariamente uma ressonância e uma destinação pública que solicita sua autonomia como construção crítica a partir da fé.

Recentemente, um Parecer do Ministério da Educação, precisamente o Parecer nº: 118/2009 do Conselho Nacional de Educação suscitou polêmica ao propor “orientações para instrução dos processos referentes ao credenciamento de novas Instituições de Educação Superior e de credenciamento institucional que apresentem cursos de Teologia-bacharelado”. Aprovado em 6/5/2009 e ainda aguardando homologação, o Parecer foi discutido num Grupo de Trabalho (GT) no último Congresso da Soter (6- 9/7/2009).

Ciberteologia entra na discussão publicando neste número as principais comunicações apresentadas e debatidas naquela ocasião. Em breve, deverá sair um livro organizado pelos prof. João Decio Passos e Afonso M.L. Soares, com participação de especialistas nacionais e internacionais sobre este controverso assunto: o lugar e o papel público da teologia na academia.

Neste número, contamos com os seguintes trabalhos, disponíveis em português e inglês. Na seção de Artigos, quatro artigos. O primeiro, de João Décio Passos, se autoexplica pelo título: “Desafios de um empréstimo epistemológico: considerações sobre o Parecer 118/09 do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior (CNE/CES) referentes aos bacharelados em Teologia”. O Autor pondera que, quando os Pareceres anteriores do MEC evitaram, talvez por razões políticas, a elucidação dos fundamentos epistemológicos da Teologia, adotaram um conceito da mesma que incluiu uma incorreção fundamental: todo discurso religioso institucionalizado na forma de curso vem a ser Teologia. Não obstante eventuais tropeços conceituais do Parecer, estamos diante de uma normatização inevitável, conclui o Autor.

“O estatuto acadêmico da Teologia à luz do Parecer 118/09 do CNE/CES” é o título do artigo de Júlio Paulo Tavares Zabatiero. Ele admite que alguma normatização curricular dos bacharelados em Teologia era uma necessidade, tendo em vista a falta de critérios para a elaboração e avaliação dos currículos. Mas não julga plenamente adequado o conteúdo desta nova norma, sobretudo no que diz respeito à laicidade do Estado e o lugar do bacharelado em Teologia no sistema de ensino superior; ao estatuto epistêmico da Teologia; e à estruturação curricular dos bacharelados em Teologia.

Já Paulo Fernando Carneiro de Andrade coloca o tema pontual do Parecer em chave mais ampla e nos oferece o texto “O reconhecimento da Teologia como saber universitário: tensões e articulações entre as dimensões confessional e profissional”. Parte da necessária distinção entre religião e Teologia, refaz a trajetória da Teologia cristã como fruto do encontro entre a experiência religiosa cristã e a Filosofia grega, e chega a alguns impasses e perigos no atual cenário nacional.

O teólogo português Ângelo Cardita é o colaborador europeu desta edição, com o artigo “Lugar e função da Teologia numa ‘ecologia dos saberes”. Tendo como pano de fundo a atual situação institucional, epistemológica e sóciocultural da Teologia em Portugal, ele pondera que a Teologia (enquanto forma crítica de saber religioso, sócio-culturalmente responsável) deve inscrever-se na linha do “interconhecimento”, mas não sem passar por um momento hermenêutico que possa conectar a “explicação” à “compreensão” e assim “abrir para uma nova hipótese de correlação da Teologia com as Ciências da Religião”.

Finalmente, na seção Notas, duas contribuições enriquecem nossa edição. Ênio José da Costa Brito oferece-nos, em “O mal na agenda teológica do século XXI” uma leitura crítica do mais recente trabalho de Afonso Maria Ligorio Soares, que foi sua recente tese de livre-docência, intitulada De volta ao mistério da iniquidade, e que pergunta pelas contribuições da Teologia da Libertação para a questão tão espinhosa da realidade do mal e do sofrimento. Em um texto escrito ainda no calor da experiência vivida na primeira leitura, o prof. Brito tenciona partilhar algumas reações. Inicia com breves considerações gerais à guisa de comentários, em seguida tece algumas sugestões e termina apontando tópicos para um diálogo com o autor.

Alonso Gonçalves é o autor da comunicação seguinte, “Só pelo sangue: prejuízos de uma cristologia sacrificialista”. Ele propõe que a centralidade da cristologia sacrificialista no Protestantismo trouxe sérios prejuízos para a eclesiologia e a teologia. De forma sucinta, o artigo levanta a necessidade de compreender a pluralidade cristológica do Novo Testamento; a centralidade da mensagem do Reino de Deus na vida de Jesus e, como consequência, a cruz. Pretende com isso fazer uma reflexão a partir da teologia latino-americana, levando em consideração o contexto e a práxis de Jesus para uma cristologia engajada e relevante para a sociedade.

A coluna Comunicação brinda-nos com a íntegra do Parecer 118/2009 do CNE/CSE, que motivou a preparação deste número especial de Ciberteologia. Além dessas seções, não deixe de acompanhar os textos que, ao longo do bimestre, alimentarão as seções Resenhas, Comunicação e Nas fontes da Bíblia. Enfim, boa leitura, ótimos estudos e, quando chegar a hora, boas férias de verão! Toda a equipe de Ciberteologia aproveita para desejar a todos um Santo Natal e um próspero 2010!

Afonso Maria Ligório Soares

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